8 de janeiro é produto da Lava Jato e denúncia de golpe está “prontinha”, dizem juristas

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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"Está prontinha a denúncia. Nenhum promotor sonha com algo mais fácil: uma testemunha comandante do Exército diz que ele quis dar o golpe. O que mais precisa?"

Jair Bolsonaro é filho direto da Lava Jato e o produto final da Operação foi o 8 de janeiro com a tentativa de golpe, afirmaram os juristas Lênio Streck e Antonio Carlos de Almeida, o Kakay, no especial de 10 anos da Operação Lava Jato, produzido pela TV GGN, neste domingo (17).

À época advogados de alguns dos réus da Operação e, ao longo de todos estes anos, denunciando as ilegalidades do então juiz e dos procuradores, os especialistas fizeram um balanço de uma década de Lava Jato:

“Infelizmente, o Brasil não aprendeu nada”, disse Kakay. “Acabaram com a credibilidade do Poder Judiciário, veja bem, mesmo depois que o Supremo Tribunal condenou, de certa forma, esses indigentes intelectuais da República da Lava Jato, por corromper o sistema de Justiça, ainda não teve realmente algo efetivo”, apontou.

“Veja bem, houve a cassação da Selma [Selma Arruda, houve a cassação do Delta, vai haver a cassação do Moro, mas é muito pouco frente ao que fizeram. É muito pouco frente ao estrago econômico, o estrago estrutural, e eu digo até institucional. As pessoas passaram a ter muitas dúvidas quanto ao poder Judiciário.”

O advogado expõe como uma das heranças da Operação a própria possibilidade de Jair Bolsonaro se alçar ao Poder em 2018:

“Nós ainda estamos no meio de uma turbulência, quer dizer, quero fazer uma reflexão aqui: o Bolsonaro é filho direto da Lava Jato. O Bolsonaro é fruto, claro que tem vários outros fatores, mas ele é fruto exatamente daquilo.”

Kakay narra que desde que começou a advogar para Alberto Youssef, em 2014, mesmo ainda sem poder projetar a dimensão do que viria, ele entendeu que a Lava Jato “era um grupo que tinha um projeto de Poder, que em um certo momento venceu porque eles prenderam o Lula, o único capaz, na época, de ganhar o Bolsonaro [nas eleições de 2018]”.

O advogado descreve como um caso de corrupção clássico: “o juiz, no ato de ofício, prende o principal opositor, elege o Bolsonaro e aceita ser ministro da Justiça”.

Lênio Streck vai além e ressalta não só Bolsonaro presidente, mas também a tentativa de golpe no fim de seu governo e início do governo Lula como “o produto final” da Operação:

“O ‘viuvismo lavajatista’ ainda está muito forte. Porque a Lava Jato é uma ideia. Uma ideia não morre, é uma espécie de ideologia. E o produto final da Lava Jato foi o 8 de janeiro. Não existiria Bolsonaro, não existiria essa extrema direita que existe hoje se é não tivesse sido amaldiçoada a política, se não tivesse havido o ultrapassamento da fronteira da política para a antipolítica que se transforma numa nova política, que é o outsider.”

“Nenhuma dessas pessoas picaretas que se elegeram na política, que entram como outsiders, nenhuma dessas pessoas se elegeria inspetor de quarteirão”, completou.

Interpretando sobre “o que sobra” de aprendizado dos crimes da Lava Jato, o jurista calcula que a própria denúncia de Jair Bolsonaro, hoje, por golpe de Estado revelará se o Judiciário aprendeu com a Lava Jato:

“E agora que estamos com tudo isso, resta saber se o próprio Supremo aprendeu, se as demais instâncias da Justiça aprenderam bem, se o Ministério Público sacou aquilo que ele ajudou a fazer, se ele tem hoje a percepção histórica do seu papel para saber o que ele deve fazer agora com relação aos golpistas, todos os demais que confluíram para o ato golpista.”

Ao tratar das atuais acusações contra Bolsonaro e os militares de seu governo, Lenio também recorda de sua experiência como promotor e procurador de Justiça e diz que “o sonho de todo o promotor de Justiça é pegar um inquérito, com uma confissão, uma denúncia de alguém com patente de general dizendo: ‘Fulano quis dar o golpe’.”

“Está prontinha a denúncia contra o presidente da República ora denunciado. Nenhum promotor sonha com algo mais fácil de se fazer, do que uma denúncia com uma testemunha que foi o comandante do Exército de um país de 220 milhões de habitantes, e o comandante diz que ele quis dar o golpe. O que mais precisa?”, questinou Streck.

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Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

1 Comentário

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  1. Eu diria que o princípio da Lava-Jato está já no denominado Mensalão cujo nome já era uma mentira porque ninguem jamais provou que havia pagamentos mensais a deputados dos partidos para que votassem em projetos do interesse do governo. Depois disso foi uma sucessão de mentiras, de distorções, de processos escondidos para criarem um movimento contra o PT e seus membros, capitaneado por Joaquim Barbosa e alimentado pela grande mídia conservadora e reacionária que sempre quis destruir o PT e suas teses e programas. Portanto, alí, no STF comandado por Joaquim Barbosa começou o movimento que deu na Lava-Jato, na eleição de Bolsonaro, a criação dessa direita golpista e a tentativa de golpe e o 8/1. A história do Mensalão e suas entranhas ainda está para ser contada na história do Brasil, ela não teve a sorte de ter uma Vaza-Jato, um hacker para conhecermos todos os meandros da operação.

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